sexta-feira, 15 de maio de 2015

Texto de Nina Lavezzo de Carvalho

Pense no seu filme favorito ou no último filme bom que você viu e gostou. Pensou?! Ótimo, agora sobre o filme que você escolheu, responda as 3 perguntas seguintes:

1.) Ele tem no mínimo duas personagens femininas?
2.) Essas personagens conversam entre si?
3.) Essa conversa é sobre alguma coisa que não seja um homem?

Respondeu sim para as três? Parabéns, seu filme passou pelo famoso Teste de Bechdel (o qual, por puro costume, chamarei de Bechdel Test ao longo do texto)!

Alguma das respostas foi não? Don't Panic, seu filme faz parte da grande maioria dos filmes de sucesso e das grandes bilheterias que não passam pelo Bechdel Test.



Bechdel Test ou The Girl, the Speech and the Subject

Em 1985, quando Alison Bechdel publicou sua tirinha The Rule (A Regra), em sua série de quadrinhos Dykes To Watch Out For, ela não tinha nem ideia do quão grande aquilo se tornaria. A tirinha é simples e cita 3 regras também bastante simples (que estão acima, logo no início do texto).

The Rule por Alison Bechdel.Para quem não fala inglês, aqui vai a tradução livre: -"Quer ir ver um filme e comer pipoca?"; -"Ah, sei lá, eu tenho essa regra sabe..." "Eu só assisto um filme se ele satisfizer três requisitos básicos. Um, ele tem que ter ao menos duas mulheres nele..." "...as quais, dois, conversam entre si sobre, três, alguma coisa que não seja um homem."; -"Bem restrito, mas uma boa ideia."; -"Sem brincadeira. O último filme que eu consegui ver foi Alien..." "... as duas mulheres do filme conversam sobre o monstro." "Quer ir pra minha casa e fazer pipoca?"; -"Aí sim." 

O que era inicialmente uma brincadeira que questionando a relevância que era dada às mulheres e aos papeis femininos nos filmes, se tornou um teste real, cujos três requisitos devem ser obedecidos para que um filme seja aprovado no teste. Um site oficial reúne todos os resultados dos filmes já analisados nesses parâmetros e permite que os leitores adicionem novos títulos bem como é possível comentar o que acham das classificações. Duas regras podem ser opcionalmente adicionadas às iniciais, não necessariamente em conjunto: as duas (no mínimo) personagens femininas devem ter nomes e a conversa deve durar no mínimo 60 segundos. Essas duas categorias restringem muito mais os resultados, que já são bem limitados.

Vídeo do Feminist Frequency sobre o Bechdel Test e o Oscar de 2013.

O teste é um indicador de discriminação de gênero, questionando como a mulher é retratada na ficção e como isso afeta nossas percepções. Apesar de simples, é simples demais, o que o torna incompleto em si. É fácil perceber isso através de alguns filmes que passam pelo teste e outros que não passam, vai aí uma pequena seleção dos títulos que me chamaram a atenção:

50 Tons de Cinza - aprovado.
Velozes e Furiosos 7 - aprovado.
Garotas Malvadas - aprovado.
Gravidade - reprovado.
Ela - reprovado.
Cleópatra - reprovado.
E o vento levou... - aprovado.
Legalmente Loira - aprovado.
Barbie como Rapunzel - reprovado.
Barbie: Fairytopia - aprovado.

Por que o teste é importante? ou Onde as minas não tem vez

Quantas diretoras mulheres você conhece? Produtoras? Roteiristas? Tanto por trás das câmeras quanto na frente delas a mulher é historicamente colocada em segundo plano. Não, não é culpa do cinema. De fato, a cultura reflete os nossos valores sociais, reflete os padrões comportamentais e identitários chamados aceitáveis.
Dados retirados de filmes de 1990 a 2000, segundo este site. Imagem à esquerda: "Personagens com falas: 70,8% são masculinos e 29,2% femininos". Imagem à direita: "Personagens que trabalham: 80,5% são masculinos e 19,5% são femininos".

Só um filme até 1910 passaria no Bechdel Test, e esse filme é Cinderela. Isso demonstra claramente como o cinema é um instrumento tanto de apreensão da realidade como também de produção da verdade da realidade vivida. Ou seja, o cinema e a mídia em geral costumam agir como mecanismos cognitivos, através dos quais percebemos a realidade ao nosso redor. Se queremos que a mulher seja entendida como servil, delicada e indefesa, temos a Cinderela. É uma personagem através da qual o público feminino se reconhece e, ao mesmo tempo, é um instrumento de persuasão para que a mulher se mantenha como é retratada, naturalizando essas características como típicas do gênero. Esse é só um exemplo dentre muitos outros.

Brincadeira de "e se Cinderela fosse feminista?". Traduçãozinha: "Você não pode ir agora, é só meia meia-noite"; -"Okay, vamos deixar uma coisa bem clara, eu faço o que eu quiser."

Conforme a realidade social foi mudando, o cinema também tem a capacidade de mudar e de tornar exponencial essa mudança. Contudo, não é o que vemos na contemporaneidade. Em média, há 2,5 homens para cada mulher atuando nos filmes mais famosos de 2012. No mesmo ano, somente 28% das 4.475 personagens com falas eram mulheres. Das personagens femininas com falas, uma a cada três estava usando roupas sexualmente reveladoras. E menos de 20% do total de 1.228 diretores, roteiristas e produtores do top 100 de filmes de 2012 eram mulheres [dados: bechdeltest.com, University of Southern California, 2013. Disponíveis aqui]. Outra pesquisa, feita com 855 filmes lançados entre os anos de 1950 e 2006, também mostrou que as personagens masculinas estavam mais presentes que as femininas em uma diferença maior de 2 homens a cada mulher. Também demonstrou que é duas vezes mais provável que personagens femininas estejam envolvidas em cenas de sexo, com cenas crescentemente explicitas ao longo do tempo, concluindo que: "Apesar das mulheres continuarem sendo sub-representadas nos filmes, sua retratação desproporcional em conteúdo sexual explícito cresceu com o tempo." (Beakley, Jamieson, Romer, 2012) [dados: Beakley, Jamieson & Romer, Journal of Adolescent Health, 2012. Disponíveis aqui].

Retirado do blog 365 reasons to be a feminist: "Mulheres são amplamente mal representadas como força de trabalho nas telas".

Esses dados exibem que a mulher continua sub-julgada pelo menos nos filmes mais vendidos e populares do cinema internacional. Infelizmente, muitas das aparições femininas "na telona" objetificam o corpo da mulher, muito mais do que a mostram como ser humano complexo. Isso está diretamente relacionado com a terceira requisição do Bechdel Test: a conversa ser sobre algo que não homens. A mulher muitas vezes aparece no cinema como um suporte para a história masculina, alguém que precisa ser salva ou a garota que o rapaz luta para conquistar, bem como usualmente é retratada de modo a parecer desesperada por um homem ou sofrendo à procura do "cara ideal". Claro, a maior parte dos protagonistas é masculino e é natural falar sobre a protagonista, sobre a trama principal. E aí cabem duas colocações: 1. por que a grande maioria dos protagonistas ainda é masculina? e 2. por que os homens não conversam principalmente sobre mulheres, quando estas são as personagens principais?. Ambos se dão porque a mulher ainda está em segundo plano tanto na realidade social quanto na cinematográfica. Ou melhor, na irrealidade cinematográfica, cuja grande indústria muitas vezes se esforça para passar a ideia de que toda mulher vive à procura de seu "príncipe encantado". Em A Room of One's Own, de 1929, Virginia Woolf já expressa a presença desse sentimento na ficção em geral: 
"Todos esses relacionamentos entre mulheres, eu pensei, rapidamente recorrendo à esplendida galeria de mulheres fictícias, são simples demais. [...] E eu tentei me lembrar de algum caso em que no curso da minha leitura houvessem duas mulheres representadas como amigas. [...] Elas são mais cedo ou mais tarde mães e filhas. Mas quase sem exceções elas são mostradas em sua relação com os homens. Foi estranho pensar que todas as grandes mulheres da ficção eram, até a época de Jane Austen, não só vistas pelo sexo, mas vistas somente em relação ao sexo oposto. E o quão pequena é essa parte da vida de uma mulher...". (Woolf, 1929)
Kristen Dunst em Melancolia. Um dos poucos filmes (dos quais me lembro) que trata da complexidade do ser humano através da personagem feminina.

Contemporaneamente, Nina Power levanta questionamento parecido, em relação à cultura pop:
"Para onde foram todas as mulheres interessantes? Se o retrato contemporâneo da mulher fosse crível, as conquistas femininas contemporâneas iriam culminar na posse de bolsas caras, um vibrador, um trabalho, um apartamento e um homem - provavelmente nessa ordem. É claro, ninguém tem de acreditar nos programas de TV, nas revistas e nas propagandas, e muitos não acreditam. Mas como chegamos a isso? [...] Que o cume da emancipação feminina coincida tão perfeitamente com o consumismo é um índice miserável de um tempo politicamente desolado." (Power, 2009)
E pior: ainda que seja difícil identificar-se totalmente com as personagens, é muito fácil escolher uma personagem ficcional que você admira e tomá-la como modelo; mas o que fazer se todas as personagens são unidimensionais? (Power, 2009). A complexidade da mulher real é ignorada em grande parte do cinema "industrial", enquanto a masculina é retratada em diversos filmes (breve lista de exemplos: Uma Vida Iluminada; C.R.A.Z.Y.; Birdman;  Whiplash; O Sétimo Selo; Mr. Nobody; etc). Ok, consideremos rapidamente o contrário, caso a questão fosse invertida: "O que dois personagens masculinos conversam sobre, quando eles não falam sobre uma mulher? Eles falam sobre os próprios sentimentos, ou ideias abstratas. Muitas vezes, sobre a trama. Lembram da trama? Aquela coisa que tende a ser especialmente importante na maioria dos filmes [...]" (Anders, 2014). É, portanto, muito mais sério do que uma ignorar a mulher, é como se toda a complexidade humana fosse traduzida somente na figura masculina durante a toda a história da ficção (O Apanhador no Campo de Centeio e O Lobo da Estepe são exemplos disso, na literatura). Como, em um cenário destes, negar a predominância masculina e o subjulgamento da figura feminina?!


O ponto do teste, portanto, é questionar toda essa estrutura que se repete temporalmente e impõe um papel social à mulher, o qual usualmente segue a via contrária de sua liberação (nos termos das correntes mais fortes do movimento feminista, ao menos). É um índice da discriminação de gênero e como tal funciona bem: indica caminhos para análises mais complexas e para começar a pensar o assunto. Começar, pois a discriminação vai para muito além de três breves perguntas, sem dúvidas.

Por que o teste não é bom? ou Por um punhado de garotas

Apesar de Robert Collin ter afirmado, em 2013, que o "Bechdel Test está danificando a maneira que pensamos sobre filmes", eu discordo completamente dele e acho que pouquíssimas pessoas (exceto talvez quem tem trabalha para o site) deixam de gostar de um filme ou de assisti-lo por não cumprir os 3 requisitos do teste. Ao contrário do que o autor afirma em seu texto, aliás, estamos aqui falando sobre cinema e sobre a inserção da mulher no cinema somente porque eu tomei conhecimento desse teste. E mais, posso dizer por experiência própria que mesmo depois de pesquisar deveras sobre o teste, tive uma sessão de cinema tremendamente agradável ao assistir um dos meus filmes favoritos, o qual não é aprovado pelo Bechdel Test (Pierrot Le Fou, do Goddard). Ou seja, não, minha maneira de pensar os filmes e o cinema não foi danificada só porque eu tenho consciência de como a mulher foi e é tratada historicamente pelo cinema e pela ficção. Pronto, acabado o momento desabafo contra uma matéria supostamente ótima da Telegraph, vamos aos reais motivos do porquê o Bechdel Test não é lá essas coisas.

Anna Karina em Pierrot Le Fou: "você acha que uma garota bonita não pode matar um homem?".

Em primeiro lugar, o primeiro elemento: ter no mínimo duas mulheres. Filmes particularmente tocantes quanto à trajetória feminina ou mesmo empoderadores não passam no Bechdel Test porque tem menos de duas garotas. Gravidade, de Alfonso Cuarón, é o exemplo mais claro disso. Sandra Bullock interpreta uma astronauta, que fica presa e, sozinha, precisa voltar à superfície terrestre para salvar a própria vida. O filme tem praticamente dois atores, um homem e uma mulher; durante a trama [SPOILER!] o homem morre e a mulher segue sozinha sua trajetória, apesar de carecer do apoio masculino (era de se esperar, né gente?), cuja imagem ela reproduz em sua imaginação. Ela consegue sozinha fazer a aterrizagem (sim, do espaço pra Terra, não é uma coisa qualquer viu...), posar na água e sobreviver. É, eu diria que é um filme encorajador, já que, além de outras, passa a mensagem de que uma mulher pode ser uma astronauta incrível e se virar sozinha, superando todas as dificuldades e pressões. Mais: o filme mostra toda a responsabilidade e pressão com as quais ela tem que lidar, todos os aspectos humanos da personagem (humanos! não femininos nem masculinos) e como é difícil superar os obstáculos que se apresentam e a solidão. Mesmo assim, o filme não passa pelo teste: não há duas mulheres, apenas uma. Contudo, o filme me parece mais empoderador e até mais feminista em comparação com muitos que passam no teste (Barbie: Fairytopia ou Quanto Mais Quente Melhor, por exemplo). Assim, esse critério de avaliação não é necessariamente uma indicação de que a representação feminina é forte no filme, nem de que a discriminação de gêneros não acontece ou acontece menos.

Sandra Bullock em Gravidade.

Em segundo lugar, não conversar sobre homens não indica que a conversa será sobre assuntos de natureza abstrata, ampla, sentimental ou não relacionada com o que é transmitido como imaginário padrão da mulher. Por exemplo, se o filme mostra duas mulheres que conversam somente sobre filhos ou cabelo ou roupas ou compras ou serviços domésticos ou cozinha ou sapatos ou maquiagem de maneiras tradicionais, o filme ainda passaria no Bechdel Test, mas não deixaria de ser discriminatório. Meia Noite em Paris, do Woody Allen, só passa no teste graças a uma breve conversa entre mãe e filha sobre a mobília da futura casa. Há, portanto, duas questões no indicador: a ausência de um tempo mínimo de conversa e a variedade de assuntos que são tradicionalmente ligados ao universo feminino de forma discriminatória, além dos homens, que podem ser abarcados no requisito 3.

Dessa forma, o Bechdel Test não pode ser considerado uma comprovação de que não há discriminação com a mulher ou que o filme é feminista de forma alguma. Pelo contrário, o Bechdel Test é, no máximo, um indicador estatístico de que a mulher aparece pouco em filmes nos moldes definidos pelo próprio teste. Ou seja, ele demonstra a possível presença de discriminação, mas não indica necessariamente que ela existe. Do mesmo modo que um filme que passe pelo teste não é necessariamente feminista (muitas vezes, aliás, não é de forma alguma).

Jennifer Lawrence atuando como protagonista da série Jogos Vorazes.

Testes alternativos ou A Vida é Dela


Afim de melhorar um pouquinho o julgamento do quanto o cinema discrimina a relação entre gêneros e ampliar essa análise, há alguns testes alternativos criados por organizações ou por indivíduos na internet que valem a pena conhecermos. Até porque não são só as mulheres que são discriminadas pelo cinema mainstream: minorias (não no sentido quantitativo, mas na capacidade de tomada de decisão política e social) em geral são mal retratadas. Negros raramente aparecem nos filmes mais distribuídos sem qualquer branco que se envolva diretamente com a trama. A comunidade LGBT também tem uma representação bastante marginal, especialmente a questão trans que, apesar de ser retratada, raramente é tratada de maneira tão profunda quanto merece. Latino-americanos,  mas principalmente muçulmanos, asiáticos, africanos e mesmo o leste europeu também são relativamente pouco representados em sua complexidade no cinema de alta distribuição. Até os "deficientes" são raramente representados para além de vítimas com uma história de superação causada pela doença. É claro que há exceções em todos esses casos e, mais, movimentos que questionam essa "ditadura" do homem branco heterossexual como protagonista. O filme Colegas, de Marcelo Galvão, e O Céu Sobre os Ombros, de Sérgio Borges, são dois exemplos.

Everlyn em cena de O Céu Sobre os Ombros.

1) Novos elementos para o Bechdel Test são uma opção adotada por algumas pessoas. Uma das opções é incluir que as conversas deveriam ter no mínimo 1 minutos, tempo considerável para um filme e razoavelmente mínimo pensando na quantidade de tempo de falas que há num filme. Outra, que pode aparecer conjuntamente, é que as duas mulheres devem ter nomes.

2) O Vito Russo Test, divulgado pelo GLAAD (Gay & Lesbian Alliance Against Defamation), acompanha como são retratados os personagens LGBT. Acho imensamente importante que esse teste seja citado aqui, pois, além das preferências sexuais (homossexuais e bissexuais, há a inclusão das trans que são parte do gênero feminino. O teste exige os seguintes critérios:
" - O filme deve conter uma personagem que é identificável como lésbica, gay, bissexual, e/ou transgênero (LGBT).
 - A personagem não pode ser somente ou principalmente definida por sua orientação sexual ou identidade de gênero[...].
 - A personagem LGBT deve estar ligada à trama de maneira que sua remoção teria efeito significante. Ou seja, eles não estão ali simplesmente para prover um comentário colorido, uma pintura urbana autêntica, ou (e talvez mais frequentemente) criar uma frase de efeito; a personagem tem de importar." (Vito Russo Test, retirado daqui)
Dentre alguns filmes lançados em 2012, enquanto 20 foram aprovados no Bechdel Teste, apenas 6 foram aprovados no Vito Russo Test.

Cena de Todo Sobre Mi Madre, de Pedro Almodóvar.

3) Graças ao meu (nosso?) amado Tumblr e a uma usuária fã de ficção científica, surgiu o Mako Mori Test. O nome foi dado em homenagem à protagonista do filme Pacific Rim, de Guillermo Del Toro, uma pilota de robôs que destroem monstros marinhos (pelo que eu entendi do enredo, pelo menos, porém estou falando sem muita propriedade já que ainda não assisti ao filme). O próprio diretor falou em entrevista ao The Star que pretendia fazer uma heroína forte, com uma trajetória marcante que a tornasse igualável aos super heróis masculinos usuais. Entretanto, o filme falha no Bechdel Test. Como outra usuária do Tumblr comentou:
"É muito fácil jogar fora um filme por causa daquele teste (que é superestimado e usado incorretamente em muitos aspectos) se você é uma mulher branca e pode facilmente encontrar outros filmes com mulheres brancas que se parecem com você e representam você... Mas como mulher do leste asiático, alguém como Mako - uma mulher japonesa bem escrita que é informada por sua cultura sem ser definida somente por ela, sem carregar um esteriótipo racial, e que consegue levar o filme adiante com um desenvolvimento da personagem - quase NUNCA aparece junto da mídia mainstream ocidental." (A página da usuária já não está mais no ar, mas a reportagem se encontra aqui)
Refleti muito sobre isso e acho que faz com que vejamos os filmes de outra forma, bem mais abrangente em vários sentidos. 



Enfim, o Mako Mori Test consiste também em três requisitos: "1) Ter no mínimo uma personagem feminina, a qual 2) tem sua própria trajetória narrativa que 3) não é suporte para uma história masculina" (a usuária que produziu esse teste também parece não ter mais o blog, o trecho foi retirado daqui). Neste teste, Gravidade estaria incluso junto de Pacific Rim. 

4) Ellen Willis é uma crítica de música e feminista que, em seu livro "Out Of The Vinyl Deeps: Ellen Willis On Rock Music" sugere um método "bruto" para perceber o preconceito de gêneros na música: você consegue pegar uma música de um homem para uma mulher e inverter os papéis? Esse teste foi repassado ao cinema e ficou assim: se você trocar os gêneros do enredo, a história ainda funciona? Bem interessante e bem simples.

Troca de gêneros em A Pequena Sereia: rolou.

5) The Sexy Lamp Test ou Kelly Sue DeConnick Test seria especialmente engraçado, se não fosse trágico. O teste foi criado por uma das principais escritoras da Marvel Comics, Kelly Sue DeConnick, e sua ideia é bem simples também. Nas palavras da autora: "se você consegue remover uma personagem feminina da sua trama e substituí-la por um abajour sexy, você é um babaca" (entrevista disponível aqui). É, bom, se uma mulher só representa o mesmo que uma "lâmpada sexy" representaria, há algo de muito podre no reino do cinema.

A diva Meryl Streep, maior ganhadora de oscars na história do cinema contemporâneo, em Mamma Mia.. Nenhuma das 4 personagens centrais do filme pode ser substituída por um "abajour sexy".

Os enfins ou A feminilidade não se compra


Gostaria somente de deixar claro que não estou propondo aqui que só vejamos filmes "politicamente corretos". Pelo contrário: se você é uma moça que gosta de Velozes e Furiosos, you go, girl! Se você gosta só dos filmes mainstream e acha esses testes todos pouco pertinentes para analisar um filme, também não tem problema nenhum nisso, não é esse meu ponto principal. O que eu procurei retratar através desse post é que o cinema é também, além de prazer, estética e a trama, um mecanismo de persuasão das massas e nós somos atingidos por ele. Assim como qualquer outro instrumento que tenha esse aspecto, é importante pensarmos sobre o cinema e sobre como ele é construído, para entendermos o quanto isso nos influencia (porque influencia sim).

Patricia Arquette, vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante por Boyhood, discursou na cerimônia de premiação: "é nossa hora de ter igualdade de salários de uma vez por todas e direitos iguais para as mulheres nos Estados Unidos".

O cinema é uma arte e "a arte só existe porque a vida não basta", como disse Fernando Pessoa. Espero que vocês continuem vendo a beleza no cinema, que continuem apreciando-o como eu faço. Mas também espero que com tudo o que foi dito, vocês e eu possamos refletir mais e melhor sobre os preconceitos que estão inseridos nos filmes, sobre como a realidade é no cotidiano e como é a sua representação na tela.

E é por isso mesmo que fiz uma pequena pesquisa com meus amigos no facebook perguntando quais são seus filmes favoritos para dar uma olhada em como seriam as porcentagens destes em alguns aspectos. Não importa os resultados nenhum deles vai parar de amar aquele filme, assim como eu não deixei de amar os meus favoritos em que não há personagens femininas fortes. Mesmo assim, acho que o teste, tanto de Bechdel quanto os outros, são capazes de iniciar a discussão sobre o papel da mulher no cinema e nos fazer refletir se outras maneiras de representar o mundo pelos filmes podem ser mais interessantes ou não. 

 Do blog Maryspop: porcentagens de mulheres [e homens] trabalhando por detrás das câmeras


Finalmente, vamos à análise dos filmes preferidos de quem respondeu (lista aqui)! Quantos dos filmes passam no Bechdel Test? Quantos tem mulheres como diretoras, na produção ou como protagonistas? Vamos ver o que a pesquisa nesse círculo de amigos fala sobre a relação entre gênero e cinema nesses termos.

Nas séries de filmes, como Harry Potter e Star Wars, cada um dos filmes foi levado em conta para a pesquisa.


Quer descobrir se o seu filme passa ou não? Aqui.

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Hm, é de se fazer pensar, não é mesmo? Será que a perpetuação da predominância masculina deve continuar sem questionamento apenas sob a alegação de que "é só arte"? E por que "só"? A arte é um indicador social e temporal importante, ignorá-lo como tal é esquecer parte de sua essência. Seu filme favorita não vai deixar de sê-lo porque você questiona como ele se direciona às mulheres e personagens femininos. Vale a pena tirar alguns momentos do seu dia (ok, você queridx leitxr já fez bem mais do que isso) para pensar sobre isso e quem sabe você também pense que some like it hot girly.

Daphne, Josephine e Sugar Kane, o trio de Some Like it Hot.


BIBLIOGRAFIA:

POWER, Nina. One Dimensional Woman. 2009. Editora O Books, United Kingdom. 
BEAKLEY, Amy; JAMIESON, Patrick E.; ROMER, Daniel. Trends of Sexual and Violent Content by Gender in Top-Crossing U.S. Films, 1950-2006. Journal of Adolescent Health. Annenburg Public Policy Center, University of Pennsylvania, Philadelphia, Pennsylvania, United States of America. Publicado em abril de 2012. Disponível em: http://www.jahonline.org/article/S1054-139X(12)00069-9/abstract.
WOOLF, Virginia. A Room of One's Own. 1929. Webversion disponibilizada pela University of Adelaide, Australia. 
COOLMAN, Dani. The problem with false feminism (or why Frozen left me "cold"). Medium - Disney and Dreamworks. Postado em fevereiro de 2014. Disponível em: https://medium.com/disney-and-animation/the-problem-with-false-feminism-7c0bbc7252ef.
Feminist Frequency. The Oscar and The Bechdel Test. 10'29''. Postado em fevereiro de 2012, Disponível em: http://feministfrequency.com/2012/02/15/the-2012-oscars-and-the-bechdel-test/.
JOHN, Arit. Beyond the Bechdel Test: Two (New) Ways of  Looking at Films. The Wire. Postado em agosto de 2013. Disponível aqui: http://www.thewire.com/entertainment/2013/08/beyond-bechdel-test-two-new-ways-looking-movies/68563/.
MCGUINNESS, John. The Bechdel Test and why Hollywood is a man's, man's, man's world. Metro News. Postado em julho de 2013. Disponível em: http://metro.co.uk/2013/07/18/movie-lovers-hit-back-at-hollywood-misogyny-with-the-bechdel-test-3886103/.
COLLIN, Robin. Bechdel test is damaging to the way we think about film. Telegraph. Postado em novembro de 2013. Disponível em: http://www.telegraph.co.uk/culture/film/10450463/Bechdel-test-is-damaging-to-the-way-we-think-about-film.html.
WALETZKO, Anna. Why the Bechdel Test Fails Feminism. College - The Blog. San Diego  State University. Postado em abril de 2015. Disponível em: http://www.huffingtonpost.com/anna-waletzko/why-the-bechdel-test-fails-feminism_b_7139510.html.
ANDERS, Charlie Jane. Why The Bechdel Test Is More Important Than You Realize. Postado em abril de 2014. i09. Disponível em: http://io9.com/why-the-bechdel-test-is-more-important-than-you-realize-1586135613.

MILLIGAN, Lauren. Does Your Favourite Film Pass the Bechdel Test? What is The Bechdel Test - Movie Film Feminist Rules. VOGUE Arts & Lifestyle. Postado em julho de 2014. Disponível em: http://www.vogue.co.uk/arts-and-lifestyle/2014/06/what-is-the-bechdel-test---movie-film-feminist-rules.

AGRADECIMENTOS

Aqui está a lista completa de filmes. Gostaria de agradecer imensamente às pessoas incríveis que me ajudaram a produzir esses dados informando seus filmes prediletos: obrigaaaada! Vocês são demais!

Bombasticamente legais: obrigada!

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