sábado, 25 de abril de 2015
Texto de Helena Siqueira.


Qualquer semelhança com a foto da nossa página é mera coincidência...
Mentira ! Essa é uma foto muito utilizada no feminismo e a mulher presente nela é Geraldine Doyle, um operária fotografada durante a 2ª Guerra Mundial, chamando as americanas para atuar na força operária e industrial dos EUA. Fonte : Google Imagens.

Acredito que meus queridos leitorxs já tenham percebido que gosto de contar o porquê escrevo as coisas, como os temas surgem e como esses novos pensamentos vão alterando o meu dia a dia.A criação nem sempre é fácil, surgem bloqueios e o tema sempre está ali esperando que eu o encontre e consiga me fazer entendida sobre o assunto, da mesma forma ou ao menos parecida com aquela ideia inicial que se passou aqui dentro da minha cabeça.


Isso é pesado, isso é hard core aliás.


O que quero dizer com tudo isso (já começando minha historinha) é que esse tema em especial já é algo meu que só hoje fui pensar que pode carregar uma boa história da luta feminina por uma espécie de "libertação" no seu contexto histórico.

Eu sou uma apaixonada pelo estilo de roupa e em geral pelas Pin-Ups, sempre gostei de ver fotos e saber de história de mulheres como Marilyn Monroe, Bettie Page, Sophie Loren e Brigitte Bardot por exemplo. 


Fonte: Google Imagens
Eu tentei ser até mesmo uma adepta do estilo, mas infelizmente  não tenho dinheiro e nem tempo pra poder aderi-lo em uma forma geral. 
E assim, todas as festas à fantasia que eu era chamada, lá estava eu mais uma vez, com o vestido estampado de bolinhas, batom vermelho, salto bem alto e a maquiagem, me sentindo completamente bem, disposta a entrar de verdade na brincadeira de um jeito que quem não me conhecia, podia até se assustar com minha empolgação. 
E já não é novidade para os meus amigos que eu vou utilizar sempre as mesmas fantasias em todas as festas.
Mandamento 1: Não zoarás a amigue que se achou linda com a fantasia de Amy e o sutião bordô aparecendo.
Aqui vale a intenção.

Fonte: Google Imagens
No dia a dia, eu costumo ser a pessoa mais básica possível, não gosto de chamar atenção para o que eu visto e comparando com todas as vezes que tive a oportunidade de me vestir imitando uma Pin-Up só me dei conta do quanto eu mudava em termos de auto-estima. Isso pode ser algo até besta de se falar, mas eu sei que esses momentos me faziam ter mais confiança em mim, me davam mais coragem de conhecer novas pessoas e de me empoderar mais diante das atitudes machistas, ou seja, uma nova forma de ser se oferecia pra mim pela simples auto-confiança que a caracterização me passava. 
                                                                                           
Tendo em vista essa historinha, acho interessante que podemos pensar no quanto historicamente as primeiras Pin-Ups foram algum dia pensadas como mulheres que desafiavam o ideal machista e moralista imposto pela sociedade das décadas de 40 e 50, consequentemente garantindo para algumas pessoas até mesmo uma ideia do quanto elas poderiam ser consideradas um certo tipo de " feministas da época". 

Sei que esse assunto abre espaço sim pra vários contra argumentos:                                    
  • Sobre o quanto elas estampavam capas de revistas e catálogos exibindo seus corpos;
  • Do quanto se deixavam ser objetificadas pela publicidade;
  • Sobre a atitude mais provocativa e o  estereótipo de "garota bonitinha",  nada alusivo à uma grande luta em prol da causa feminista e que deixava margem para a imaginação e idealização masculina.
Mas não estou aqui realmente pra utilizar dessa ótica, através da história dessas mulheres eu só quero passar a mensagem que no meu ponto de vista, qualquer forma de transgressão das ideias fixas e misóginas que uma sociedade predominantemente machista carrega sobre como uma mulher deve ser portar é válida na bandeira feminista que eu levanto.

Nossa, falei demais, me desculpem.
Continuem a ler que eu pretendo ir pra parte interessante agora, juro.

O termo surgiu especificamente na década de 40, as Pin-Ups foram mulheres desenhadas e fotografadas em larga escala, comercializadas como a cultura pop da época. Eram lindas modelos que estampavam as capas de revistas, cartões postais e calendários, utilizados frequentemente pelos homens que iam para a 2ª Guerra Mundial e colavam as fotos nas paredes dos quartéis para ter uma distração em meio aos horrores do conflito, sendo assim, pin-up significa basicamente "pendurar" em inglês que era o destino das imagens dessas mulheres.

- Mas Helena cadê o feminismo dentro dessa exposição toda? 

Então, é isso mesmo ! A exposição dessas mulheres era um ato praticamente desafiador em uma sociedade onde mulheres estavam designadas apenas a serem perfeitas donas de casa, submissas e que não apareciam em capas de revistas com biquínis, decote e vestidos de bolinha, não havia uma atitude de aprovação da mulher aparecer como ela bem entendesse em fotos e expondo seu corpo como bem entendesse na mídia em geral.
 As fotos em si expressavam alguns ideais contrários aos dessa estrutura machista e patriarcalista imposta, inclusive a suposição de que mulheres seriam apenas donas de casa, tendo em vista que elas também era fotografadas com temas de profissões fora do estereótipo de mães e domésticas, uma vez que com os homens indo para a guerra, as cidades ficavam carentes de mão de obra para fábricas e demais postos de trabalho.Era comum imagens onde elas apareciam com acessórios originalmente "masculinos" como ferramentas, macacão de trabalho e também vestidas de diversas outras profissões como professoras e babás, o que já deixava bem claro que as mulheres estavam se inserindo em um mercado de trabalho que não era restrito ao da sua própria cozinha. 
Fonte: Google Imagens

Durante a 2ª guerra mundial , muitas dessas mulheres foram também fotografadas com acessórios militares e navais, o que se torna interessante a partir do momento que essas imagens que os soldados tinham contato incentivavam de certa forma na atitude desses homens diante da guerra, davam uma sensação de identificação e motivação para eles, na proteção do seu respectivo país.  

Anaz (2009) explica em seu artigo "Como as Pin-Ups funcionam" exatamente essa parte sobre os calendários e a sua relação com as motivações na guerra através das produções do artista peruano Alberto Vagas (1896-1982), nesse trecho aqui: 
"O artista plástico peruano Alberto Vargas (1896-1982) praticamente criou o conceito pop das pin-ups. Desde sua chegada a Nova York em 1916 ele ficou fascinado pela beleza e estilo das garotas americanas e passou a retratá-las. Nos anos 40, a revista Esquire publicou um calendário com as garotas criadas por Vargas (Varga Girls) que virou um sucesso imediato. As garotas e o artista tornaram-se conhecidos mundialmente e, durante os anos da Segunda Guerra Mundial, as pin-ups de Vargas viraram símbolos patrióticos e estímulo aos soldados americanos. Após uma temporada bem-sucedida na Esquire, Vargas, que teve como modelos Marilyn Monroe e Ava Gardner, tornou-se o principal ilustrador da revista Playboy, que desde o seu lançamento em 1953 foi uma das maiores divulgadoras das pin-ups." (Anaz, 2009 : 1)
E mais, Harrison (2008) e Maran (2012) em seus trabalhos também citam o quanto as pin-ups marcaram o período histórico da 2ª Guerra Mundial:
"A imagem das pin ups alegravam os dias difíceis nos campos de batalha. Os soldados levavam além das armas e equipamentos, fotografias das famílias e as pin ups em imagens nas cartas de jogar, calendários e blocos de notas, conforme descrevem Martignette e Meisel (2011). Em meio ao sucesso das pin ups no período da guerra, surgiram diversas revistas chamadas “Girlie magazines." (Harrisson, 2008 e Maran, 2012)     
Fonte: Google Imagens

Na década de 60 essas mulheres também começaram a conquistar a industria cinematográfica, com artistas como Marilyn Monroe e Beth Page, ou seja, as pin-ups foram sempre passando por vários elementos presentes na cultura e na mídia, carregando a mensagem do empoderamento feminino antes mesmo do feminismo como poder de luta, no sentido que  elas se utilizaram do poder de autonomia sobre o seu corpo e autenticidade presente na sensualidade para não se sujeitar aos aspectos morais e machistas presentes no mundo naquele contexto. A mulher independente provocava um certo medo nos homens pela sua independência ao fugir das obrigações domésticas e conquistar uma certa "liberdade" a partir de novas formas de trabalho.

A partir da década de 70, as pin-ups passam a cair em um certo esquecimento devido às liberalizações sexuais e a ascensão da indústria pornográfica, que dava lugar a atos sexuais e fotos de mulheres nuas de forma  explícita,  ao invés de deixar a sexualidade implícita apenas em poses de certa forma apenas provocativas mas sem "vulgaridade" como eram produzidos nas imagens das pin-up.

Na década de 80, há uma reformulação da imagem das Pin-ups, mais envoltas de sensualidade , mistério  e atitude. Conforme as épocas, a imagem dessas mulheres sempre vai se encaixando com o contexto presente, quebrando barreiras patriarcais ao mostrar o poder presente no corpo e na sensualidade, com uma grande facilidade de difusão nas culturas.
"A partir dos anos 80 o ilustrador japonês Hajime Sorayama surge com uma versão atualizada e futurista das pin-ups. Considerado um novo Alberto Vargas na história da ilustração de belas mulheres, o artista já teve suas pin-ups usadas em campanhas da Sony e da Levi’s, além de freqüentarem com regularidade as páginas da revista masculina Penthouse.No Brasil, o fotógrafo Adrian Benedykt tem se especializado em retratar o renascimento das pin-ups neste novo milênio. Em suas imagens (ou “cheesecakes”, como são chamadas as fotografias de pin-ups) a sensualidade, o mistério e o glamour das pin-ups tradicionais se misturam a uma atitude mais ousada das modelos."  (Anaz, 2009 : 3)
E atualmente ? Como fica? 

Atualmente, eu conheço a algum tempo o site Suicide Girls, em que modelos tatuadas, de piercing, com cabelos coloridos, posam para fotos e vídeos no estilo retrô/vintage caracterizado pelas pin-up contemporâneas. É um conteúdo bem sensual, mas que não deixa de ter sua beleza e demonstrar uma atitude fora dos padrões, que fazem essas modelos  até mais bonitas e bem mais diferentes umas das outras na minha opinião.

Emocionada com o tanto que esse post tem mulheres lindas *-*
Fonte: Google Imagens

Temos também como novo exemplo a ex-esposa do Marilyn Manson, a linda da Dita Von Teese, que faz apresentações de cunho mais sensual e fetichista , além da Amy Winehouse que mesmo em pouco tempo foi caracterizada com uma atitude ímpar na cultura pop e estilo tanto de música quando de vestuário bem autêntico, considerado uma característica marcante dessas mulheres e que eu espero ter demonstrado a partir desse breve resuminho do que esse movimento traz de bom e especial para o feminismo e o empoderamento feminino. 
"A atualização da representação de garotas sensuais e com glamour no novo milênio confirma que elas não são apenas uma forma de povoar o imaginário masculino, mas principalmente uma demonstração do poder da sexualidade e da beleza feminina na cultura." (Anaz, 2009 : 3)
Dita Von Teese , o exemplo mais contemporâneo da elegãncia, beleza e atitude das Pin-Up Girls.
Fonte: Google Imagens

Então é isso Galerê, espero que vocês tenham gostado, caso contrário é culpa minha. Então não se acanhem em dar uma olhada nos links que eu achei e ler por quem entende mais do assunto.
Aí sim, acho que realmente dá pra gostar :)


Links Bonitos:


1) Quem são as Pin-Ups?
(É curtinho mas com muita informação, pra uma leitura fácil e bem esclarecedora eu recomendo).

2) O que é Pin-Up?
(Segue a mesma linha, mas fala mais sobre as atrizes que fizeram sucesso no cinema e de como o estilo têm sido adotado atualmente).

3) Sindicato da Indústria - A mulher que colocou donas de casa em biquínis.
(Esse texto curtinho fala sobre Bunny Yager, uma modelo do estilo pin-up que se especializou em fotografia para fotografar donas de casa e demais anônimas no seu estilo).


Beijos de luz pra todo mundo ! ;*

Helena.

Referências Bibliográficas: 

ROCHA, Andressa da. "A moda das pin ups contemporâneas no estilo retrô".
Anais do II Seminário Internacional História do Tempo Presente, 13 a 15 de outubro de 2014, Florianópolis, SC. Acesso em 22 de Abril , 2015. Artigo Disponível 

ANAZ, Silvio. "Como funcionam as pin ups: História das pin-ups girls".
Lazer Uol. s.l. s.d. Acesso em  22 Abril de 2015. Artigo Disponível  

HARRISON, Robert. "1000 pin-up girls". Hohenzollernring: Taschen, 2008.

MARAN, Ana Laura." Pin-up Brasil". 2012.
95 f. Monografia (Bacharelado em Design Gráfico)-Centro Universitário Senac, São Paulo.
Monografia Disponível.







  


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