sábado, 17 de outubro de 2015

Texto de Nina Lavezzo de Carvalho.


!!!SPOILER ALERT!!!!
[Esse texto é um review - sob a perspectiva feminista - do filme Gone Girl (Garota Exemplar, em português), de David Fincher, adaptação do best-seller de Gillian Flynn, publicado em 2012. Então, migx, se você não assistiu ou leu o livro, tá na hora hein? Baixe, alugue, procure na TV, enfim, assista e depois leia o texto!]

Quem acompanha o Inclusive já está sabendo da coluna literária da Bruna, que começou mês passado e está maravilhosa [aqui e aqui]! Bem, essa inspiração foi o bastante para que eu quisesse escrever sobre cinema também. Talvez não de forma tão regular quanto uma coluna, mas, depois desse final de semana, não restaram dúvidas. O que houve no final de semana?! Bem, finalmente assisti Garota Exemplar. E, acreditem, é um soco no estômago.


Garota Exemplar é um filme que gera controvérsias, mais que tudo. A polêmica de classificação do filme em misógino ou misândrico, feminista ou anti-feminista correu a internet em 2014, após seu lançamento. Porém, mais importante que isso é entender o quão importante são os pontos que o filme toca, ou melhor, apunhala lenta e dolorosamente. Casamento, paquera, a garota dos sonhos, o cara dos sonhos, bondade, carinho, amor, fidelidade, mentira/verdade, violência psicológica, violência física, assassinato, problemas financeiros, família, filhos, solidão, beleza, amizade, estereótipos... o filme trata tudo isso de forma pessimista, sim, mas mais do que isso nos fazendo pensar em como nossa sociedade funciona, no que nos obrigamos a fazer, no que fingimos ser. Então, vamos por partes:

I. Amazing Amy

Nick: "Seus pais literalmente plagiaram sua infância?"
Amy: "Não, eles melhoraram ela e depois venderam para as massas"

Vocês já pararam para imaginar como é a infância de um talento precoce? De uma criança famosa? Daquelas meninas que parecem bonecas, ganham dinheiro com menos idade do que votam e são propaganda, constantemente expostas como a imagem que será vendida? Isso tudo já me parece difícil para adultos, de modo que sentimos empatia ao imaginarmos a infância de Amy Dunne.


A personagem principal da trama foi a inspiração para uma série de livros infantis e, assim, cresceu sendo Amazing Amy. Amazing Amy é a personagem que todas as meninas querem ser. Padrão de beleza típico: olhos azul, branca, loira, sorridente... Padrão de boa educação misturada com espírito de aventura, dedicação à música e aos estudos; carinhosa com os animais, amigos e família. Amazing Amy mantinha um padrão típico das histórias fictícias, portanto. Irreal e irrealista. Contudo, a pessoa que havia dado origem a esse estereótipo de menina perfeita era de carne, osso, sentimentos e amargura: Amy desistiu do violoncelo, Amazing Amy virou um prodígio; Amazing Amy tinha um cão, Amy não; Amy foi eliminada do time de vôlei, Amazing Amy chegou às finais. Quem deu origem à Barbie ou quem tenta imitá-la jamais será a Barbie, pelo contrário, viverá sob a sombra dela. Ao contrário do plástico, nosso corpo muda - ele envelhece, adoece, tem pelos, tem espinhas, emagrece, engorda, se suja- e nós somos indivíduos com vontade própria - nem sempre queremos ser talentosos, charmosos, sorridentes, carinhosos, educados, obedientes, exemplares-, enfim, somos reais e a realidade muda a todo momento. Amy Dunne, que deu origem à Amazing Amy, jamais seria a personagem do livro. Por mais que seus pais lhes forçassem que fingisse frente à mídia e fãs, a vida real tem imprevistos, a vida real é dinâmica e espontânea, é real. Amy tinha que conviver com a frustração da realidade constantemente a atingindo enquanto Amazing Amy conseguia tudo o que queria.

Essa infância conturbada tanto pela imagem inatingível da espetacular Amazing Amy quanto pela obrigação de se comportar como a personagem frente à mídia e de continuar com a série de livros durante toda a sua vida, graças à pressão familiar, é fundamental para entender a complexidade da personagem. Amy Dunne consegue atuar como Amazing Amy, fingir ser a garota dos sonhos de Nick, mentir sobre perseguidores, fazer sotaque falso e tantas outras coisas principalmente porque a vida dela foi, desde o princípio, uma mistura entre realidade e ficção. Mais do que isso, em sua infância ela obrigatoriamente teria que confundir um e outro, já que o livro era baseado nela e ela tinha que fingir gostar de viver a personagem nas entrevistas. Essa construção de enredo tanto no filme quanto no livro constroem a complexidade de Amy Dunne e deve ser levada em conta na análise do filme. Viver à sombra de outra pessoa (real ou não) é um trauma enorme, e talvez essa seja uma das principais lições do filme.


O momento de superação de Amy Dunne em relação à Amazing Amy parece ser, segundo o filme, justamente quando Nick a pede em casamento. "Amazing fucking Amy if getting fucking married!", eis um detalhe crucial.

II. The Cool Girl 

"...I was playing the girl who was in style, the girl a man like Nick wants: the Cool Girl. Men always say that as the defining compliment, don’t they? She’s a cool girl. Being the Cool Girl means I am a hot, brilliant, funny woman who adores football, poker, dirty jokes, and burping, who plays video games, drinks cheap beer, loves threesomes and anal sex, and jams hot dogs and hamburgers into her mouth like she’s hosting the world’s biggest culinary gang bang while somehow maintaining a size 2, because Cool Girls are above all hot. Hot and understanding. Cool Girls never get angry; they only smile in a chagrined, loving manner and let their men do whatever they want. Go ahead, shit on me, I don’t mind, I’m the Cool Girl.
Men actually think this girl exists. Maybe they’re fooled because so many women are willing to pretend to be this girl…Oh, and if you’re not a Cool Girl, I beg you not to believe that your man doesn’t want the Cool Girl. It may be a slightly different version—maybe he’s vegetarian, so Cool Girl loves seitan and is great with dogs; or maybe he’s a hipster artist, so Cool Girl is a tattooed, bespectacled nerd who loves comics. There are variations to the window dressing, but believe me, he wants Cool Girl, who is basically the girl who likes every f***ing thing he likes and doesn’t ever complain. (How do you know you’re not Cool Girl? Because he says things like “I like strong women.” If he says that to you, he will at some point f*** someone else. Because “I like strong women” is code for “I hate strong women.” (FLYNN, trecho retirado do livro)

Quando eu ouvi esse discurso no filme e depois o li, eu só queria abraçar a Flynn. Não sei se os homens sabem disso, mas já passou da hora de saber, caso não. Todas as mulheres sentem ou já sentiram o que está descrito acima. Quando eu digo todas, eu de fato falo de todas as mulheres - ao menos da cultura ocidental, com certeza. É o ponto auge do filme na perspectiva feminista, talvez, porque como poucos esse discurso traduz sentimentos muito íntimos. Tão íntimos que buscamos não comentar, mas a verdade é que eu tento ser a cool girl. Eu queria ser a cool girl. Por que não quereria? Ela é realmente tudo que me disseram que eu devia querer desde que eu sou menina. A Amazing Amy tem que ser encantadora para todos, então Amy finge ser a Cool Girl - que podemos julgar ser uma versão adulta da mesma literatura. Só que, novamente, a Cool Girl não é real. "Homens realmente acreditam que essa garota existe.", porém. O ditado propagado por Goebels, então, parece ter se concretizado: repita uma coisa vezes suficientes e ela se tornará verdade.

Historicamente ouvimos tantas vezes como devemos nos portar frente aos homens, como conquistar um bom marido, como ser uma boa esposa e outros exaustivos deveres que submetem nossas vontades aos homens, que nem sempre conseguimos expressar nossos desejos espontaneamente. Talvez seja mais profundo que isso: muitas mulheres tem dificuldade de pensar suas vontades e desejos sem pensar na dos outros, pois durante séculos fomos acostumadas a sermos responsáveis por todos da casa. A partir do século passado, a preocupação com finanças e trabalho se somou às outras, sem necessariamente redistribuir o cuidado necessário à família e à casa. O filme mostra muito bem isso. Amy tinha que fingir ser uma boa esposa, enquanto Nick já parara de fingir. Podemos culpar alguém por querer ser si mesmo? Não. Mas podemos culpar alguém por deliberadamente despejar todas as responsabilidades em você. E devemos. Contudo, Amy não faz isso... Amy é a Cool Girl.
"When I first read the Cool Girl speech, I nodded my head. [...] I identified with the pressure to pretend to be someone else at the beginning of a relationship. (A pressure, which Amy later points out, men do not feel, otherwise we’d see a lot of boyfriends learning to knit and pretending to like girly drinks to impress their girlfriends.) At one point early in the book, Cool Girl Amy writes about a time Nick ditches her, her friends and their husbands in order to play poker. He doesn’t call and doesn’t text. When Amy arrives home she embraces him and tells him it’s OK. It’s a move that I’ve seen many female friends make: pretending like they don’t care when their boyfriends don’t show up. They do care, and it will most likely become fodder for a fight later." (DOCKTERMAN, 2014).

Eu realmente gostaria de saber o quanto homens conseguem perceber isso (podem comentar, por favor), pois sei que todas ou quase todas as mulheres sabem. Nós vivemos e vemos isso diariamente. Sim, diariamente durante grande parte das nossas vidas. Outro dia estava no carro com mais duas amigas e meu namorado me ligou desmarcando de almoçarmos juntos. Minhas amigas não sabiam o que estávamos falando, mas pela forma que eu disse "tá bom" elas sabiam que eu estava brava. Eu estava tentando ser a Cool Girl: eu estava brava, mas não briguei, não falei que estava brava, fingi que não era nada. Nesse caso realmente não era nada demais, mas muitas mulheres fazem isso desde pequenos almoços desmarcados até violência física e abuso sexual. O filme explora isso muito bem à medida que o tempo de relacionamento avança e os abusos se tornam cada vez maiores. Eu duvido que uma mulher que assista esse filme ou leia o livro não se identifique com no mínimo uma cena, é um desafio.

Então ser a Cool Girl é aceitar desaforos. O preocupante é o quanto queremos ou quantas mulheres querem ser a Cool Girl. Obviamente não é porque gostamos de sermos agredidas psicológica e/ou fisicamente, não é porque gostamos de nos sentir mal conosco, não é porque gostamos de nos sentir humilhadas por situações corriqueiras, não. Queremos ser a Cool Girl porque somos criadas para querer isso. Assim como as crianças do filme amavam a Amazing Amy e provavelmente queriam ser como ela, nós buscávamos nossos ídolos fictícios de infância mais famosos que digievoluem para Cool Girl: são as meninas populares da Malhação, é a Mary de "Quem quer ficar com Mary?" (DOCKTERMAN, 2014), é a garota de Zombieland, enfim, são várias personagens do imaginário. E acreditamos realmente que talvez seja possível ser ela, pois a Cool Girl não é perfeita. Ela é way too cool para ser perfeita, já que, se ela fosse perfeita, por que ela ficaria com você? A Cool Girl é uma ficção de mulher ideal segundo os homens: ela não está nem aí pois eles não estão nem aí, elas comem hambúrguer porque eles comem, elas assistem futebol porque eles gostam, elas saem com os amigos deles, etc. Ela é como eles, mas mais bonita, mais bem cuidada, mais cuidadosa, amorosa, fiel, atenciosa, e outras possíveis qualidades. É claro que esse retrato é um exagero, mas dificilmente encontramos relacionamento sem doses predatórias de Cool Girl (seja por pedidos dos homens para que suas companheiras ajam mais dessas forma, seja pela pressão individual da mulher sobre si). 


III. You. Fucking. Bitch.

"I will practice believing my husband loves me, and will love this baby. That this child might really save our marriage. But I could be wrong. Because sometimes, the way he looks at me, I think, man of my dreams, father of my child, this man of mine may kill me. He may truly kill me."

Para aqueles que acham que Amy Dunne é só uma psicopata doida, lembremos de uma coisinha básica: foram anos e anos de violência psicológica, abandono emocional, traição e possivelmente violência física. Não sei vocês, mas até o plano de fugir, fingir a morte e culpar o marido, eu senti empatia pelo lado dela [call me psycho].


O grande problema da Cool Girl é aceitar a violência psicológica sem reclamar, sem questionar. Querer ser legal a ponto de achar okay não conversar sobre os problemas, não discutir o relacionamento, não falar sobre coisas que te incomodam, ou seja, a ponto de estar disposta a fingir o tempo todo. Porém nenhum relacionamento se sustenta assim, ele acaba colapsando em si mesmo, já que fingir o tempo todo é insustentável. Amy Dunne aguentou muita coisa: desde o fingimento inicial, ela aproveitou quando Nick ainda se entusiasmava com o namoro e o casamento, mas a seguir aguentou a ausência de esforço do marido, a ausência de cuidado dele com a casa, a preguiça, o ócio, a falta de companheirismo e a traição dele; suportou mudar de cidade - ficando longe de todos os seus amigos e/ou família - para cuidar da mãe de Nick, a exclusão, a solidão, a carência, a falta de emprego e de dinheiro, a posição de dona de casa no subúrbio, o tédio, a falta de carinho ou afeto, ter que tomar a posições que ela supostamente não queria, quase implorar por um filho e ainda ser usada para sexo, enfim, Amy Dunne, pelo menos segundo sua narrativa, sofreu bastante. A fala de Amy, a seguir, ilustra bem: "Nick Dunne took my pride and my dignity and my hope and my money. He took and took from me until I no longer existed. That's murder.".


A violência física antes do desaparecimento fica no ar, segundo o filme: é o espectador que decidirá acreditar em Nick ou em Amy. Contudo, depois do fim da farsa, quando Amy já voltou para a casa e ambos vão ao programa de TV, ambos discutem e Nick segura e empurra a cabeça dela contra a parede (claro que depois de ela ter matado um cara, fingido ter sido estuprada e ter armado seu próprio falso assassinato culpando o marido, faz mais sentido).


Porém, de fato, o que eu realmente gosto nesse filme é da importância que ele dá para a violência psicológica e para evidenciar o que é violência psicológica. Isso é de extrema importância, pois esse tipo de violência ainda é visto como menos agressivo (e, como o filme mostra, pode até ser o contrário).


IV. Conjunto da obra

"When I think of my wife, I always think of the back of her head. I picture cracking her lovely skull, unspooling her brain, trying to get answers. The primal questions of a marriage: What are you thinking? How are you feeling? What have we done to each other? What will we do?"
 
Gillian Flynn, autora de Gone Girl, é uma autora importante para a nossa geração. Não só porque é uma ótima escritora (segundo ouvi dizer, infelizmente não li nenhum trabalho ainda), ou só porque é feminista, ou só porque escreve protagonistas complexas e completas: não só por nenhuma delas, mas pelo conjunto dessas coisas. Garota Exemplar é maravilhoso pela complexidade da personagem da Amy. Há motivos para a revolta da Amy, para todas as revoltas - até o assassinato após seu ex-namorado a tratar como uma boneca domesticada que tem que obedecê-lo. É uma protagonista mulher e complexa! Nós precisamos disso, e como! Faltam mulheres com as quais possamos nos identificar. Para Flynn, faltam, mais especificamente, vilãs bem construídas:
"I particularly mourn the lack of female villains — good, potent female villains. Not ill-tempered women who scheme about landing good men and better shoes … not chilly WASP mothers … not soapy vixens (merely bitchy doesn’t qualify either). I’m talking violent, wicked women. Scary women. Don’t tell me you don’t know some." (FLYNN, in: DOBBINS, 2014)

Ainda em entrevistas, Flynn questiona se o feminismo é
“really only girl power, and you-go-girl, and empower yourself, and be the best you can be? For me, it’s also the ability to have women who are bad characters … the one thing that really frustrates me is this idea that women are innately good, innately nurturing. In literature, they can be dismissably bad – trampy, vampy, bitchy types – but there’s still a big push back against the idea that women can be just pragmatically evil, bad and selfish ... I don’t write psycho bitches. The psycho bitch is just crazy – she has no motive, and so she’s a dismissible person because of her psycho-bitchiness.” (in: SANER, 2014).
Amy Dunne não é uma vadia doida, ela é uma personagem MUITO complexa - a qual eu não defendo, mas compreendo em muitos níveis - e retrata bem várias opressões que sofremos como mulheres.



Uma coisa que me incomodou muito no filme é o fato do nome do Ben Afleck ser o primeiro. Isso é simbólico ou sintomático. Se for simbólico, é uma metalinguagem, pois no começo do filme Amy estaria correndo atrás de Nick. Se for sintomático, indica que o segundo personagem principal, mesmo não sendo o melhor ator, é colocado em primeiro lugar por ser homem. De qualquer forma, percebemos durante o filme que o protagonismo é feminino. Nenhum presente melhor em livros escritos por mulheres. Vale lembrar que, durante todo o filme, as personagens mais sagazes são mulheres. Amy, Margo e a detetive Rhonda são personagens importantes para a narrativa, completas, interessantes, inteligentes, que entendem até certo ponto a ação de Amy, apesar de as últimas duas acharem ela louca e criminosa (de fato ela é, né). Isso ressalta nossa carência e a importância de mais personagens femininas marcantes no cinema e na literatura: “We should have all sorts of women in our novels – just as we have all sorts of men.” (DOCKTERMAN, 2014).


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

SANER, Emine. The Gone Girl backlash: what women don't want. The Guardian, 7/out/2014.
DOCKTERMAN, Eliana. Is Gone Girl Feminist or Misogynist?. Time - Living - Culture, 6/out/2014.
COSSLETT, Rhiannon Lucy. Female villains and false accusations: a feminist defence of Gone Girl. New Statesman - Cultural Capital, 7/out/2014.
BERGDHAL, Esther. Understanding the Feminist Controversy Behind 'Gone Girl'. .Mic - Arts.Mic, 15/abr/2014.
DOBBINS, Amanda. Yes, Gone Girl Has a Woman Problem. Vulture - Women, 3/out/2014.

2 comentários:

  1. Um dos melhores textos reflexivos que li esse ano!

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  2. Uma boa análise mas creio que retirar a culpa da personagem por ela ser mulher é também seguir essa mesma linha de fragilidade como algo inerente ao sexo feminino , Amy é inteligente, manipuladora,tem uma mente afiada e é habilidosa, é uma psicopata sim, é uma vilã de uma complexidade fascinante e retirar isso dela , colocando-a como uma vítima do "sistema" vai contra as intenções da autora .

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